Há um tempo atrás
li uma história, a qual fiz questão de guardar até hoje pois me emocionou
bastante e quero reproduzi-lo na íntegra para você. Foi escrito por Maria Lucia
Palma Latorre cujo titulo é: “O dia em que minha mãe transformou batatas em
peras” Veja sua história: Minha mãe era
analfabeta, mas sabia fazer contas como ninguém. Multiplicava os salgadinhos pelo preço unitário e
chegava ao resultado antes mesmo de nós, os filhos, que sabíamos tabuada de
cor. Ela não sabia ler, mas exigia que os filhos só tirassem boas notas na
escola. Era dia das mães, eu tinha 15 anos. Morávamos em uma casinha simples e
brilhante no interior do Paraná. Minha mãe havia recebido uma encomenda muito
grande de salgadinhos e tinha ganho um bom dinheiro.
Prometera que o almoço
desse dia, além daquele frango maravilhoso que ela fazia como ninguém, teria
uma sobremesa de surpresa. Estávamos acostumados aos doces de todo dia: mamão
de cidra, de abóbora...Mas eram doces caseiros, doces que já não tinham a
surpresa do sabor. Ficávamos imaginando qual seria a surpresa. Um pudim de
leite condensado? Morangos com
chantilly? Era época de morangos? Domingo, mesa posta, a família reunida.
Esperávamos meu pai, que tinha ido à igreja. No ar, uma alegria misturada com o
mistério da sobremesa. Meu pai chegou, almoçamos..."E cadê a
sobremesa??"Não havia nada na geladeira! Nada que nossas bisbilhotices
pudessem ter descoberto! Minha mãe foi até seu quarto e, de dentro do armário
tira uma caixa de papelão. Dentro, bem escondidas, embrulhadas em um jornal
havia três latas de doces. De doces, como ela supunha que fossem..."Vejam
só crianças..." - disse minha mãe - "...peras em calda!" Na foto
que ilustrava a lata, as batatas eram facilmente confundidas com peras. Minha
mãe que não sabia ler, não podia imaginar que existissem batatas em conserva. E
em latas, como peras e pêssegos. Ninguém teve coragem de falar. Ou antes,
ninguém queria falar. Minha mãe começou a abrir aquelas latas feliz e
orgulhosa. Despejou o conteúdo em uma travessa, e acho que na excitação do ato,
nem percebeu que eram batatas. Ela começou servir um por um. Todos quietos,
recebendo suas porções sem saber o que dizer. O primeiro começou a comer,
seguido por outro e outro que seguiam os demais. E de repente, éramos quatro
filhos e um pai comendo batatas como se fossem peras. Minha mãe tinha o hábito
de servir os filhos. Ficava andando pela cozinha e quase sempre só se sentava
quando praticamente todos terminavam suas refeições. Quando terminamos de comer
a sobremesa, - juro, juro que todo mundo comeu sua porção - minha mãe
perguntou: "Estava bom??" Todos responderam que estava ótimo! Sobrou
na tigela uma batata. Minha mãe disse que não queria, que não gostava de peras.
Meu pai, rapidamente, falou: "Vou acabar com esse pedaço então. Tá muito
bom!!" Minha mãe morreu em 2006. Nunca soube que serviu batatas de
sobremesa. Porque para nós, foi a pera mais saborosa do mundo. Mesmo que não o
tenha sido naquele dia, nas nossas lembranças, aquela cumplicidade, com que nós
seus filhos nos comunicamos só com o olhar, transformou a batata azeda na fruta
doce.”
Querida amiga aquela mãe providenciou a sobremesa com tanto carinho que
criara uma expectativa em todos que estavam à mesa e agora estes retribuíam-na
com uma cumplicidade de amor e respeito. Talvez alguém diria: Ah! Não podemos
ser hipócritas! Não! Não podemos, mas podemos ser bondosos. Como poderiam
decepcioná-la? Frustra-la por tamanha bondade? Em muitas mesas talvez o dia das
mães seria desastroso se algo assim ocorresse. Talvez o pai diria: - Você tem
certeza que isto são peras? Você não viu o rótulo? – São batatas! E os filhos
romperiam em risadas, a mãe ficaria envergonhada e decepcionada consigo mesma
pois tinha investido além de suas economias, o seu coração, naquelas latas que
supostamente seriam peras.
A Bíblia faz
um alerta aos filhos(as): “Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas vida
longa na terra que o Senhor, o teu Deus, te dá.”(Ex.20.12) Honrar não é somente
dizer palavras bonitas em uma data especial. Honrar é demonstrar através de
palavras e ações, uma atitude interior de estima e respeito pela posição que
ocupam. No grego Honrar significa reverenciar, estimar e valorizar. Honrar é
dar respeito não apenas pelo mérito mas pela posição (http://www.gotquestions.org/Portugues/honrar-pai-mae.html#ixzz3XISuYZfI)
Eu sou mãe mas também sou filha, e hoje
quero honrar a minha mãe, dizendo-lhe que a amo e valorizo tudo que ela fez por
mim. Quero dedicar parte de meu tempo para sair de braços dados com ela, ir ao
shopping, ver vitrines, tomar sorvete, telefonar para somente bater papo, jogar
conversa fora, dar boas risadas, fazê-la sentir-se especial. E você? Quanto
tempo faz que não liga para sua mãe? E não dedica tempo a ela? Talvez você não a tenha mais, neste caso você
pode dedicar tempo a alguém que lhe seja especial ou ainda àquela sua vizinha
ou aquela irmãzinha de sua igreja que não tem ninguém por ela. Todos nós somos
carentes de atenção. Não esperemos receber! Pois a bíblia diz que “É melhor dar
do que receber”(At.20.35b).
O tempo passa
rapidamente e logo restarão somente as lembranças. Pense nisso!
Márcia Amaral
Artigo publicado no jornal voz de Mulher Maio de 2015